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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Cafezinho, com açúcar, adoçante e propósito

O líder é aquele que inspirar, que
anima as pessoas a se sentirem bem
com o que fazem e a se sentirem
integradas à obra.


Dois anos depois de assumir a Secretária da Educação da cidade de São Paulo, Paulo Freire foi para outras atividades e eu assumi a secretaria. Não quero ser demagógico, mas eu tinha aprendido com Paulo Freire e queria ser líder também para aquelas pessoas que estavam ali na Secretaria de Educação, que é uma máquina imensa. Na época, eram 700 escolas, um milhão de alunos, 45 mil professores. A maior secretaria da cidade de São Paulo é a da Educação. Só o orçamento dela no início dos anos 2000 era de R$ 3 bilhões, verba maior que o total de alguns estados brasileiros.

Eu despachava no 13º andar de um prédio na Avenida Paulista. No mesmo local ficava a contabilidade, onde uma menina passava o dia inteiro fazendo Nota de Empenho para liberação de verba. Ao lado dela, as máquinas de cópias, nas quais um menino passava o dia inteirinho reproduzindo materiais. E, do outro lado do andar, ficava a cozinha, onde a Dona Carmen fazia o café e nos levava nas salas. O que eu percebi? Que aquelas pessoas não estavam animadas. Embora elas estivessem numa atividade importante e eu dissesse para elas que educação era uma coisa fundamental, havia um problema: elas não conseguiam reconhecer a obra. Porque o menino que tirava cópia de documentos achava que o trabalho dele era tirar cópia de documentos. A moça que fazia Nota de Empenho achava que o trabalho dela era fazer Nota de Empenho o dia inteiro. E a mulher que fazia café achava que a obra dela era servir café. O que eu comecei a fazer? Cada vez que eu saía para visitar uma escola, inaugurar uma outra, ir a uma reforma, a uma festa – e essas atividades ocorriam quase todos os dias –, comecei a levar um deles comigo no carro oficial. Levava o menino que tirava cópia, a menina que fazia Nota de Empenho, a Dona Carmen que servia café. E comecei a fazer isso com outros funcionários. Qual foi o efeito? Eles começaram a enxergar a obra. O menino que tirava cópias o dia inteiro começou a entender que o trabalho dele não era tirar cópia. Era fazer Educação. A moça que fazia café percebeu que o fato de ela passar o dia inteiro levando café para lá e para cá não significava que a obra dela na vida era fazer café, mas sim fazer Educação. Que aquilo se transforma em criança correndo, em aula, em alegria, em problema, em solução. É nesta hora que as pessoas começam a se sentir bem. Sentir-se bem não depende exclusivamente de salário, não depende exclusivamente de condições materiais. Depende da sua visão sobre a obra, de sentir-se integrado a ela é importante para sua edificação.

A obra de uma empresa é trabalhar com o cliente, deixá-lo completamente satisfeito? É trabalhar com o acionista, deixá-lo feliz? Claro. É fazer com que o funcionário se sinta bem. Sentir-se bem implica sim condições materiais adequadas, mas elas não são decisivas. Se fosse assim, não haveria ninguém trabalhando em educação pública, hospital público, em creche etc. Afinal de contas, são áreas que materialmente portam uma precariedade muito grande. A pessoa se orgulha da obra. Todo ano, 15 de outubro, Dia do Professor, a TV mostra uma matéria em rede nacional de uma professorinha no interior do Amazonas, que pega um barco ou que pega um cavalo e percorre quilômetros para dar aula. Um exemplo da importância da obra.

Eu trabalhei muitos anos no Rio Grande do Norte, ajudando a fazer uma cartilha de alfabetização que é usada lá até hoje. E, de vez em quando, encontrava a Dona Zefinha, uma professora que dava aula havia 25 anos. Andava 15 quilômetros todos os dias para dar aula. Era uma classe multisseriada. Na mesma sala havia vinte alunos: quatro do primeiro ano, cinco do segundo, três do terceiro – tudo misturado. E ela dava aula, pagava a merenda do bolso dela e o salário dela era o equivalente a quase R$ 90,00 por mês. Você pode dizer: “Mas isso é ilegal?” Lamento, continua sendo. Eu perguntava para ela:

- Dona Zefinha, porque a senhora dá aula?
- Ô, seu moço. Se eu não der aula, eles ficam sem ninguém. Só têm eu.
- Mas a senhora ganha um salário miserável. Se a senhora for cortar cana na época do corte a senhora ganha quase dez vezes mais do que isso.
- Ô moço, mas eles só têm eu.

Você precisa ver como eles ficam felizes quando vêm aqui e quando eu vejo um deles andando para lá e para cá, e quando eu entro numa agência do banco na cidade e quem me atende é um daqueles meninos para quem eu dei aula há dez anos. O que eu ganho aqui não é isso que eles me pagam. O que eu ganho aqui não tem preço.

Será que essa mulher está de bem com a vida? Claro. Mas pode-se argumentar: “Como alguém pode estar de bem com a vida com uma vida miserável?”

Cuidado: é melhor a gente qualificar o que significa miserável. Porque miserável talvez seja ser aprisionado pela ausência de visão da obra. Miserável talvez seja ser incapaz de sentir-se bem com aquilo que se faz. Claro, estar de bem com a vida não significa de maneira alguma que você não se canse. Aliás, o líder é aquele que inspira, que anima as pessoas a se sentirem bem com o que fazem. Não implica em não se cansar. Se você trabalha intensamente num projeto, é claro que vai ficar cansado. Se uma empresa estipula uma meta para o próximo ano, e você se mobiliza juntamente com a sua equipe, é claro que vai ficar cansado. Mas não vai ficar estressado. De onde vem o estresse? De duas fontes: primeiro, de não enxergar o resultado da obra e, segundo, de não conseguir partilhar o processo de trabalho ou responsabilizar os outros.

No saldo final, perde-se a visão de equipe, esvai-se o sentido, fraqueja a razão de ser e se obscurece a obra.

Fonte 
Livro:  Qual a tua Obra?
Autor: Mario Sergio Cortella

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